O mundo perdeu, neste último sábado, uma das últimas unanimidades que pairaram sobre este espaço. Imune ao tribunal da Internet e aos tão recorrentes cancelamentos dos tempos atuais, Silvio Santos é um daqueles ícones inquestionáveis, cujo exemplo é a maior memória de seu legado. E sua biografia pode ostentar, também, a classificação de um grande livro de crônicas, as quais – ainda que tomadas isoladamente – são capazes de trazer inúmeras lições, na chamada faculdade da vida.

Carioca, o jovem Senor logo trocou os livros pelo tabuleiro de comércio, que lhe permitiu desabrochar uma bela voz e uma das maiores capacidades de empreender já vistas na história de humanidade. Do comércio informal para as caravanas, para o rádio, para o Baú da Felicidade e, finalmente, para TV, cuja linguagem ele não apenas decifrou, mas redesenhou e fez escola. Não à toa, grandes personalidades da televisão mundial não param de definir o ícone Silvio Santos como um ou o maior apresentador de todos os tempos.

Temente a Deus e dotado de ilibada reputação, venceu preconceitos e demonstrou, com o exemplo de sua vida, a seriedade das profissões artísticas, que era tão questionada na época de sua ascensão. Como empresário, ensinou que, de fato, transpiração é muito mais importante do que inspiração, além da sabedoria da construção silenciosa dos sonhos, em diametral oposição ao que se observa no atual panorama de domínio das redes sociais.

Silvio empenhou seu sonho de fundar uma emissora de televisão. Certamente passou por diversos “nãos”, seguidos da natural incredulidade dos mais próximos, sendo visto como ingênuo ou visionário, talvez. Venceu. Edificou a segunda maior televisão do Brasil, tornando-se uma das pessoas mais influentes e abastadas do país, à frente do sempre pujante Grupo Silvio Santos, com uma amplitude de operações que, além do SBT, agrega a Liderança Capitalização, a TV Alphaville, o hotel Sofitel Jequitimar, a SiSAN Empreendimentos Imobiliários e a Jequiti, no ramo de cosméticos.

Chegou a ser banqueiro e aí experimentou um revés que colocou em risco todo seu patrimônio. Em tempos difíceis, mostrou – de forma ainda mais efusiva – a verdadeira face do grande homem e empresário, que locupleta a velha máxima de que águas calmas não formam bons marinheiros. Com honradez, habilidade, capacidade de unir pessoas e trabalho, venceu a crise e reconstruiu seu patrimônio. Mais uma lição de inteligência emocional e higidez mental no gerenciamento de situações desafiadoras.

Grande em todos os momentos de sua vida, não poderia ser diferente no seu passo para a Eternidade. Orientou sua família para que sua Páscoa não fosse explorada, deixando na memória dos brasileiros sua imagem elegante e feliz, no mais puro “Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar, do mundo não se leva nada…”, eternizado no seu mais famoso jingle. Fechou os olhos em um sábado, dia sagrado para os judeus, que guardam o chamado Shabat. Enquanto outras emissoras noticiavam o ocorrido, no seu SBT, a programação infantil seguiu incólume, como ele sempre determinou. Foi o verdadeiro encarte da última página de um best-seller inconteste. Talvez uma das últimas unanimidades vivas.

Parafraseando Getúlio, encerro afirmando que Silvio saiu da vida para entrar para a História, indubitavelmente. Meu respeito e minhas homenagens.

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