Definitivamente, os sistemas de informação passaram a dominar os mais variados cenários dos últimos anos. Nós, das gerações, x e y, nascemos, crescemos e nos alfabetizamos em um mundo sem gadgets, com a maioria dos mecanismos ocorrendo de forma manual ou com auxílio de máquinas rudimentares exercendo funções de natureza coadjuvante. Assim eram as calculadoras, contadoras de cédulas, ou ainda os famosos equipamentos de datilografia.

O grande desafio estava em proteger a integridade física dos documentos e não necessariamente seus respectivos conteúdos. Não à toa, empresas premium de instrumentos de escrita desenvolveram tintas especiais, com limalha de ferro, por exemplo, para tornar indeléveis as tintas aquosas das canetas tinteiro. Depois vieram as esferográficas cujas tintas eram pastosas e as chamadas rolerball com tintas à base de gel. Evoluções pensadas para assegurar a higidez dos documentos, sempre à luz de sua apresentação física.

Com o passar dos anos, as formas físicas foram, gradativamente – porém em alta velocidade – substituídas por apresentações virtuais. Chego a dizer que documentos em papel, em tempos atuais, apenas quando são impressos de uma matriz digital. E com a chamada cloud computing, as formas físicas foram reduzidas ainda mais drasticamente. Sem nenhuma dúvidas, houve um salto imenso no que diz respeito à praticidade e acessibilidade dos documentos e informações. Mas, quando a reflexão pende para o lado da segurança, a resposta parece não ser tão contundente.

Com o total desapego à forma, o elemento vulnerável agora está da matriz ideológica das coisas. O processo de informatização fez iguais os escritos de todas as pessoas, indiscriminadamente. Não há mais a distinção entre as ortografias, tão individuais como as impressões digitais, haja vista a massificação das fontes dos editores de texto eletrônicos. A distinção, naturalmente, deve ocorrer pelo conteúdo, ou, até mesmo a forma de redigir. E, até esses estão em cheque com o advento da inteligência artificial, a qual tem modificado substancialmente a forma de redação daqueles que a utilizam para essa finalidade.

O sistema financeiro conta com criptografias e elementos de identificação biométrica de última geração, capazes de traçar milhares de algoritmos em poucos segundos. Mais uma vez insisto na grande praticidade dessas ferramentas, as quais permitem pagamentos online, via NFC, ou diversos outros tantos que até desconheço. Além de práticos, trouxeram um verdadeiro alívio para os comerciantes, os quais se viam em apuros com os pagamentos por cheque, por exemplo. Mas, para o cliente do sistema bancário, será que essas formas modernas além de práticas também são seguras? Tenho minhas sinceras dúvidas.

O cheque, como citei anteriormente, necessitava de preenchimento cartular e individual (chegaram a inventar impressoras de cheque, e achávamos o ápice da modernidade), carecendo de assinatura em cada uma das folhas. Não à toa, um dos primeiros procedimentos da abertura de uma conta corrente era o preenchimento do cartão de autógrafos. Esse cartão ficava em poder do banco e seria o parâmetro de comparação das assinaturas. Modelo inegavelmente mais seguro para o correntista.

Na mesma linha os cartões de crédito, os quais dependiam de assinatura para que fossem válidas as transações. Com implantação dos chamados chips, que contém as senhas criptográficas, toda a responsabilidade pela transação passou a ser do cliente e não mais do banco, tirando de si o ônus de conferir assinaturas, etc. Quando ocorre alguma subtração, a primeira de todas as indagações é se a senha não foi compartilhada, perdida, etc. Mais uma vez, relativizando-se a segurança do conteúdo em nome da praticidade em detrimento da forma em si. Portanto, se avançamos em muitos pontos – e esse avanço é inegável – também é possível inferir que não crescemos tanto em outros, ou, até mesmo, suportamos uma regressão pautada na inversão de valores. Praticidade versus segurança e, principalmente fornecedor versus consumidor. Afinal, as máquinas evoluíram muito, deixando um hiato a ser vencido pela humanidade: a evolução do próprio ser humano, pondo fim – ou reduzindo – as contradições dos tempos contemporâneos.    

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *