O Oriente Médio carrega conflitos que se confundem com sua própria História, irradiando um roteiro de medo e insegurança. São gerações que perseguem uma utopia cada vez mais inatingível e, o que é pior, tendo-se plena consciência de tudo. Israel, naturalmente, por ter conseguido se estruturar como Estado, dispõe de uma narrativa mais convincente e, até comovente, sobre os fatos.

A equipada mídia israelense é capaz de registrar a dor real das pessoas conferindo-lhe um relevo peculiar, atingindo cirurgicamente os alvos ocidentais com a ideia do sofrer de um igual. Em outras palavras, quando vemos os civis sendo atacados em Israel, torna-se praticamente automática a comparação com nossas famílias e, até mesmo, realidades socioeconômicas. E, por isso, esse é um drama – muitas vezes – interessante para os nossos governantes, justamente porque induz, como dito, ao cenário comparativo. E isso pode culminar em sofismas inaceitáveis como “muito melhor viver em meio à corrupção que em uma guerra sem fim.”

Essa proximidade comove. E a comoção internacional promove o “julgamento” da questão, o que acaba por demandar um maciço apoio internacional a Israel, deixando suspensos os direitos do povo Palestino, principalmente diante de uma população paupérrima, sobrevivendo em condições desumanas e sem condições, obviamente, de promover uma propaganda de guerra eficaz. Tudo isso induz para um panorama bilateral, o qual culmina em uma polarização equivocada, baseada no “certo ou errado”. Enquanto, na verdade, todos estão errados, não sendo possível classificar os mísseis em bons ou ruins, afinal todos matam.

Em apertada síntese, o conhecido antissemitismo europeu deflagrou o Movimento Sionista, por meio do qual os judeus – que viviam de forma esparsa – passaram a ocupar o território hoje chamado de Israel. E essa ocupação não ocorreu de forma pacífica, tendo envolvido aquisições financeiras e, também, anexações militares. Dentro desse contexto, a mais traumática de todas as regiões é a capital Jerusalém, considerada um espaço sagrado para judeus, muçulmanos e católicos. Essa icônica cidade fica na fronteira entre Israel e a Cisjordânia, uma região dominada por palestinos.

Cisjordânia e Israel não vivem em paz, justamente pela reivindicação da capital Jerusalém. Entretanto, embora extremamente militarizada e com status de barril de pólvora permanente, dificilmente há tensões mais importantes na área, oposto do que se observa uma outra porção de terras (infinitamente menor, diga-se de passagem), chamada Gaza, ou Faixa de Gaza. Alí estão os palestinos controlados por uma subdivisão mais radical chamada Hamas, que vive em estado de guerra permanente com Israel. E é justamente por ser o Hamas o grupo controlador de um Estado Palestino geopoliticamente não reconhecido, ou reconhecido por escassas nações, que qualquer levante vido de Gaza é apregoado como terrorista.

É importante destacar que os ataques israelenses aos palestinos de Gaza são frequentes. Os levantes vão desde ataques militares propriamente ditos, até a aplicação de embargos econômicos e restrições de circulação e realização de negócios na região. Até mesmo por sua escassez de recursos e pouco poderio econômico, Gaza e o Hamas costumam fazer ataques pontuais a Israel, sem maiores impactos no vizinho gigante. Mas, de forma surpreendente e também totalmente contrária ao Direito de Guerra e as regras mais comezinhas de ombridade, nos últimos dias o Hamas capitaneou um sangrento e bastante efetivo ataque contra Israel, com um saldo parcial de muitos mortos e feridos. Israel já iniciou a retaliação e a guerra já se instaura novamente.

Por isso, essa matéria tenta desvendar os olhos do leitor para o pacote pronto – estilo bandido e mocinho – que a propaganda de guerra desenhou e a mídia internacional já comprou. Como disse no princípio do texto, não há “mocinhos” em uma guerra. Todos estão errados e esse carimbo já é marcado desde o momento em que se dá o primeiro tiro. Em uma sociedade que domina até mesmo a tão famosa inteligência artificial, matar, com certeza, é uma solução inaceitável.

 O grande desafio das organizações multilaterais é, sem dúvidas, a imposição de suas autoridades mesmo diante de nações economicamente poderosas. Está na hora da celebração de um tratado de paz calcado nas regras de Direito Internacional, benéfico e justo para ambas as partes. Afinal, a História já ensinou que armistícios escritos sob o ditado dos vencedores – entenda-se por vencedores os países mais ricos ou aliados dos mais ricos – acabam gerando ainda mais ódio ao invés de pacificar o conflito. Termos de paz assinados dessa forma costumam ser, na verdade, primeiros passos para conflitos ainda piores.

Portanto, é importante enxergar toda essa narrativa, a qual transcende muito às linhas resumidas do bem que se defende do mal. A questão é bem mais complexa do que isso. 

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